domingo, 6 de marzo de 2011

Nicole

(Texto redigido em 28/02/2011 - Segunda-feira)
     
Hoje recebi a notícia de que uma aluna minha havia falecido. Desde a 5a série lecionando para ela, que esse ano estava na 8a série. Alguém de um futuro promissor e que de tão perfeita, cristal translúcido, eu chegava a pensar temendo que a rispidez do mundo um dia a arranhasse e a machucasse. 

Vitor Soares e Nicole da Silva Müller em aula de Arte na 5a série - 2008
      
Era uma pessoa meiga, resignada, solidária, falava baixo, tinha um olhar doce e um sorriso sereno e iluminado. Era anjo da Jennifer e já havia sido anjo do Vitor. Para falar a verdade era a seriedade e porto seguro de todos - era o espelho de condutas de alguém que está além. Sua presença era praticamente etérea em meio à agitação frequente de uma sala de aula.
Ninguém a temia, porém todos a reverenciavam. Deixava sempre suas coisas de lado para assumir a prática do bem pelo próximo e, mesmo assim, dava conta de suas próprias responsabilidades com muita nobreza e amor.
Não fazia cara feia, nem contestava... Era obediente e humilde, inteligente e amorosa, dedicada e atenta... sempre respeitando à todos; sem inimigos ou aqueles que pudessem falar mal dela. Carregava consigo as dores e os prazeres de suas amizades e de todos aqueles que a cercavam. Defeitos? Nunca percebi algum sequer... Se existiam eram tão mínimos e insignificantes que literalmente eram anulados por qualquer manifestação positiva dela em seu dia-a-dia. 

 
Vitor Soares e Nicole da Silva Müller em aula de Arte na 5a série - 2008
 





 Torcia, aguardava, atendia... tinha iniciativa, ouvia, aconselhava, sorria... Produzia e sorria, cooperava e sorria. Nunca buscava estar em evidência, apenas buscava abnegação, cumprir seu papel e o olhar para o outro. Sensibilizava-se e em simples gestos, carregava em seu colo todos que precisavam de sua sabedoria - como sendo ela um conforto da alma. Não julgava e nem desmerecia – transmitia uma compreensão impar e silenciosa. Silenciosa, sublime, porém tão forte...
          Com ela, nós professores nos sentíamos importantes e valorizados – pois ela era isso: era receptividade, devolutiva e respeito ao nosso trabalho.
De fato, um ser tão puro desses já era de se imaginar que seria requisitado à voltar logo lá para cima... É de se imaginar que uma criatura tão sem maldade ou vícios humanos teria uma passagem breve por aqui, apenas para cumprir algumas das missões grandiosas que lhe faltavam e que seriam como luz na vida daqueles que mais precisaram dela.
Personificando tudo o que foi descrito pude ver através de Jennifer o quanto era fundamental a existência de Nicole e da importância dessa relação; em seu pranto não havia o lamento da perda de um apoio ou de alguém que lhe ajudava como favor a se locomover e a levar os materiais, havia sim a dor da partida de alguém que era sua pilastra emocional e afetiva, alguém que a fazia confiar em si mesma na mais genuína troca. O desespero da amiga refletiu a proporção imensurável de uma criatura realmente especial e de laços que permanecerão eternos. 
Ela vai, mas deixa muitos ensinamentos. Agora ficaremos aqui com saudade e tristeza; agora ficaremos sem Nicole. Fiquemos então com sua delicadeza, compaixão e lealdade como exemplos; guardemos em nossos corações seu sorriso e o olhar que resplandecia paz, pois é dessa forma que ela deve estar agora: Em paz! Não há, em seu caso, outra alternativa.
Mas de fato é muito complicado encarar tudo isso e entender que uma pessoa linda dessa já não será encontrada na escola proporcionando ternura em sala. O mundo fica mais sem um cristal; o céu teve sorte: ganhou uma nova estrela.
        É difícil... mas tenho fé que agora, à luz de Deus, Nicole estará em esplendor sendo um outro tipo de anjo em nossas vidas. 

Nicole da Silva Müller - 2008
“Obrigada por tudo, menina de alma pura e coração grande! Desculpe-me caso essas minhas palavras não estejam à sua altura! São com todo amor para você... Foi uma honra ser sua professora. Esteja em paz e em luz!
Com carinho de todos que lhe admiram...”
 
(*09/11/1997 +27/02/2011)

No hay comentarios: